vou lutar sim filha- 2022

 Hoje li aqui uma publicação de uma professora sobre as razões que a levam a ir para a greve. Razões mais que validas, que apoio incondicionalmente. Mas aquele escrito, de alguém que sempre viveu à direita trouxe-me à memoria um outro tempo. Outras lutas. Por aqui o Fomento fechava, deixava mais de 2500 pessoas no desemprego, elas foram para a rua lutar, a falência era fraudulenta, os salários estavam em atraso, não tinham dinheiro para comer. Nas manifestações que realizaram pediam trabalho, justiça, dinheiro para colocar o comer na mesa. Mario Soares, 1º Ministro, mandou a policia carregar sobre as manifestações. Os policias de elite vindos de Lisboa, carregavam sobre os manifestantes, eles tentavam resistir, caiam, levantavam-se, os que levavam menos iam para casa feridos, os outros tinham que ir para o hospital, ali vários foram insultados por médicos e enfermeiros, chamam-lhes "comunas" era bem feito terem levado, ficavam horas a espera de ser atendidos.

No outro dia voltavam à luta. Levavam mais porrada.
Eu tinha 17 anos, um dia vi no telejornal uma reportagem feita no norte do pais na qual, sei lá porquê, o jornalista perguntava ao povo do norte o que achava sobre o que se passava aqui a sul, há uma resposta que nunca mais esqueci "matem os comunas, porrada neles, estão a fazer barulho mas não os vejo a trabalhar, é bem feito".
Ali ao lado, na cama a gemer de dor, estava um desses que fazia barulho, com um braço partido, duas costelas partidas e a cara toda ferida. Ali no quarto ao lado estava um homem que sempre vi trabalhar e que nunca vi meter em confusões senão por causas justas. Ali no quarto ao lado estava um homem cheio de dores, mas que no dia seguinte iria de novo para a Praça lutar por justiça.
ali estava o meu pai, o homem a quem nessa noite um policia enraivecido tinha espancado e deixado caído no chão e que foi pelo seu pé para o hospital, porque os taxis fugiram todos da Praça, que tinha esperado horas no hospital, que tinha sido ofendido por médicos e enfermeiros, mas que me disse ao chegar, quando eu lhe pedi "não vás mais pai". Vou sim filha, hoje somos nós a lutar, amanha quem sabe terão de ser eles.
o meu pai não conhecia Brecht, mas sabia que se não lutasse, um dia viriam busca-lo a ele porque já não havia outros.
Ontem, foram os operários, hoje tem que ser os doutores!
Pena naquela altura mais não terem percebido o que o meu pai percebeu, hoje lutamos por uns, amanha por outros, mas se formos todos juntos, um dia ganhamos!
Hoje estou do lado da minha amiga professora, como outrora fiquei ao lado do meu pai operário. hoje ela tem companheiros de luta, mas no passado não esteve lá.

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