Postagens

Mostrando postagens de abril, 2023

Historias do Cante - O canto do Cante Ovibeja

Imagem
  Talvez tenham passado 20 anos, não sei ao certo, mas já foram muitos desde a primeira vez que o Cante foi marca de diferenciação na Ovibeja. Pela mão de José Luís Jones instalou-se o cantinho do Cante. Os homens do cante marcaram presença, cantaram ao despique, contaram historias, mostraram modas que já estavam em desuso. O homem do gravador, Jones, registava tudo, para depois editar em CD ou livro. Os olhos brilhantes e sorridentes a cada nova moda. E sempre a instigar a mais uma. Assim vivenciei pela primeira vez uma feira cheia daquele cante que ninguém ligava lá para os meus lados e que me cativava desde menina. Ele, o Jones, falou-me depois dos encontros de Cante de Aljustrel, da Festa da Senhora da Cola e do Cante ao Baldão, que desconhecia. E foi-me mostrando tudo o que tinha gravado. Muita entrevistas pelos campos fora, feitas a pastores e outros trabalhadores rurais que detinham esta riqueza imaterial. Essa, foi uma Ovibeja marcante para mim. Foi ali que comecei a trabal...

25 de abril 2015 - 2 parte

  Não sou da geração que fez o 25 de Abril nem sequer da que a viveu plenamente, sou da seguinte, da que não tem memoria do fascismo a não ser pelos livros ou pelas conversas. Mas isso não faz com que não tenha memoria sobre esse dia distante. Há 41 anos atras no dia 25 de Abril eu e todas as minhas colegas de colégio, passamos o dia a rezar, mas nesse dia não foi pela alma dos meninos da Rússia foi mesmo pela nossa salvação. Um dia de dores nos joelhos e um dia de fome, devido ao jejum. Porquê? Só muito mais tarde soube porquê. Importante, importante foi o dia 26 de Abril, dia em que os meus pais não foram trabalhar e eu não fui ao colégio. Ate as dores nos joelhos me passaram e o dia foi todo de brincadeira. Gostei desta coisa a que chamavam liberdade. Se liberdade era não ir ao colégio e não rezar, por mim estava aprovada! Mas a liberdade havia de dar-me mais do que dias sem rezas. Deu-me a possibilidade de escolher o que fazer com a minha vida. Deu-me a liberdade de viajar. Deu...

Abril 2015

Imagem
  "Hoje estamos aqui para assinalar um dos valores que nos foi trazido pela revolução de 74. Faz este ano 40 anos que se deu inicio ao processo de descentralização Cultural. Isto para muitos não quer dizer nada, mas é uma das linhas de orientação mais importantes que a Revolução de Abril nos trouxe. Através da descentralização, desencadeou-se em Portugal um processo que tinha como objectivo levar ao interior do País ferramentas e conhecimentos que nos permitissem crescer social e colectivamente. A cultura, trave mestra para o desenvolvimento de qualquer povo, saia assim da Capital e das salas frequentadas apenas por uma elite e rumava para o interior do País. Évora teve o privilegio de ser das primeiras cidades a receber a descentralização. Isto que nos parece insignificante, foi de grande importância para a cidade. Pois permitiu a uma geração inteira ter contacto com autores, interpretes e intelectuais que de outra forma só conheceria das revistas. Mas foi mais importante d...

Abril 2017

Imagem
  Ontem lá estive na Praça. Do espectaculo nada posso dizer...devo ter sido das poucas que não viram e eu só comento o que vejo. Não vi porque desde as 21 horas, altura em que cheguei ate ás 2h da manha só tirei cerveja, vendi sumos, cafés e aguas...nunca em tantos anos de presença no 25 de Abril vi tanta gente a querer tanta coisa ao mesmo tempo e foi isso que não me deixou ver nada do espectaculo...verdade que ouvi a Grândola. Há aqueles que param ao escutar o hino eu paro ao escutar a Grândola e mais uma vez cumpri...e o povo das cervejas esperou pacientemente que eu terminasse aquele meu momento de liberdade e voltasse ao trabalho... Mas apesar de nada ter a dizer sobre o espectaculo, há duas coisas que tenho de dizer, foi bonito ver tanta gente voltar para me dar os copos vazios para por no lixo e assim não os deitar no chão da Praça. Foi uma felicidade ver tanto civismos! Outra coisa que me fez ficar feliz foi a honestidade daqueles que vieram comprar algo para beber, eles ...

O filho da Maria Barenha morto no Tarrafal

  Em 1937 um dos filhos da Maria Barenha, nascido a 24 de Abril de 1911, minha bisa deu entrada no Tarafal para nunca mais voltar. Parece que o avisaram varias vezes para não se meter em politica, para não entrar na revolta dos marinheiros, não escutou, foi há luta de peito aberto e coragem. Maria Barenha, a alentejana destemida da qual herdei o ADN, pôs-se a caminho de Lisboa para se despedir de mais um filho. Sabia que ele não voltaria, sabia que seria a ultima vez que o via. Parece, que ele lhe pediu desculpa por mais essa dor, mas a Maria não achou isso diz-se que lhe disse .- " se não lutasses, se te acobardasses ai sim era preciso desculpas, pois eu não pari cobardes, assim nada tenho a desculpar" e despediu-se dele para sempre! Esteve varias semanas em Lisboa a consolar mães, mulheres e filhas de condenados como o seu filho, regressada a casa voltou a tratar dos filhos que cá tinha deixado ( 3 haviam de morrer de forma idêntica). O filho morreu 1 ano depois de dar ent...

Mulheres desenrascadas as da geraçao da minha mae

  Hoje o Francisco Chico da Emilinha partilhou uma foto de uma forma de sapateiro que me levou a olhar para a que tenho cá em casa, também ela hoje a servir de enfeite. E ao olhar para ela lembrei-me da minha mãe (que esta viva e se recomenda). Nascida numa família rica, o pai perdeu tudo tinha ela ai uns 16 anos. Menina sem ter hábitos de trabalho, a ir à escola e a comer carne e beber leite condensado, pois não gostava do de vaca. Tudo levava a querer que tivesse ficado, tal como os irmãos, uma ex-rica aparvalhada. Mas não, a minha mãe que não sabia fazer nada, nem a comida, arregaçou as mangas e aprendeu. Empregou-se numa fabrica, onde começou a enrolar rebuçados e de onde saiu como encarregada 40 anos depois. Mas não se ficou por ai, era o que faltava...ia aprender tudo o que fosse possível. Segundo ela, se um dia lhe voltasse a faltar o dinheiro, havia de saber desenrascar-se. Já a conheci a fazer a sua própria roupa que via as artistas vestirem nas revistas. Aprendeu a cortar...

Carlos Caveira

  Hoje participei, não tanto quando gostaria, na maratona de leitura organizada pela Câmara Municipal de Évora. Já o fiz por diversas vezes, mas não consigo esquecer-me da primeira vez. Teria ai uns 16 anos, foi organizada uma maratona, por um professor que dava aulas no Instituto (ainda não era universidade), no Café Portugal. O café transformou-se nesse dia numa grande sala dedicada aos livros. Estudantes, professores, intelectuais, artistas, reformados todos com um livro escolhido e para apresentar, entre um café e uma cerveja. A meio da tarde aparece um leitor improvável, Carlos Caveira, um diller da época, um homem das drogas pesadas que frequentava o café e que todos conhecíamos, saiu do lugar que ocupava nas mesas do fundo com um livro na mão e propôs-se ler um excerto. Fizemos espaço para que ele se chegasse e para admiração geral o livro escolhido era "Não há drogados felizes". Com uma pedra monstra, uma voz arrastada lá foi lendo o que havia escolhido...no final co...

as empresas da moda e a sabujices dos políticos

  Na semana passada foi inaugurada com pompa e circunstancia uma nova empresa em Évora. O presidente da câmara, que varias vezes se referiu a esta empresa como exemplo foi mesmo cortar a fita da CAPGEMINI PORTUGAL. Depois, a oposição pegou numa entrevista dada pelo presidente do grupo para pedir explicações sobre o que disse o senhor à comunicação Social sobre a falta de mão de obra na cidade e sobre os preços caros da mesma...queixa-se o senhor de "estar a ir mais lento do que o previsto por um problema de oferta e que deveria ser o mais fácil de resolver". Lançadas estas afirmações logo um bando de gente desatou a dizer que por cá ninguém quer é trabalhar, que são uns malandros e por ai segue o discurso... Já há algum tempo me ando a conter em falar sobre esta empresa ( e as da sua laia), para não colocar agua fria no sonho de alguns, mas agora não vai dar...o senhor pós-se a jeito! Ora a empresa não consegue realmente profissionais qualificados, mas não por falta ou por na...

Pandemia- Abril 2020

Imagem
  esta tudo mal senhora ministra a classe artística que a senhora diz gostar tanto, que ate ficou contente com a sua ida para o ministério da cultura, esta a morrer de fome! E você assobia para o lado. Fomos os primeiros a fechar, somos aqueles que ja sabem, pois os contratos estao cancelados, que nao temos trabalho ate Setembro (no mínimo). Na grande maioria ja éramos todos precários o que fazia do nosso dinheiro chapa ganha, chapa gasta. Fomos apanhados no nosso pior período, pois como sabe (ou deveria saber) em Janeiro e Fevereiro raramente temos trabalho, o que faz com que muitos tenham as actividades fechadas ate Março, pois nao da´para pagar contribuições e nao receber. E o que temos como apoio é uma mao cheia de nada. a senhora poderia ter pedido a excepção no acesso a segurança social ( o estado de emergência permitia-o)e abranger os que estavam com as actividades fechadas, muitos deles com 8 meses de descontos no ano anterior, nao o fez. Deixando milhares sem acesso a es...