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Mostrando postagens de junho, 2022

a minha cantarinha

  Quando era pequena passava sempre o mês de Julho no Couço. A minha "mãe da casa" ia tomar conta dos pais e eu ia com ela. Por aquelas bandas ainda se ia buscar agua ao poço e eu durante a Feira de S. João queria uma "cantainha" para ir também ao poço. Era uma briga eu queria a cantarinha e eles não me queriam compra-la porque eu a partia. Insistia todos os dias ate conseguir vencer alguém pelo cansaço e lá me compravam a boa da cantarinha que eu levava para casa e guardava como se de uma relíquia se tratasse. No Couço, colocava-a no poial ao lado dos cântaros e no final do dia, pelo fresco lá ia eu toda vaidosa buscar agua na minha cantarinhaa. Transportava-a com extremo cuidado, colocava a agua (pouca claro porque ela era pequena) muito devagar para não perder uma gota, transportava-a muito lentamente e colocava-a com muita atenção ao lado dos cântaros. Ate ficar vazia ia bebendo dela. Por mais cuidado que tivesse havia sempre um dia que a cantarinha batia na b...

feira de S. joao - parte 2

  Faltam poucos dias para o inicio da Feira de S. João. A feira é uma marca da cidade, da região e é também uma marca na minha vida. Nasci no dia de S. Pedro apesar disso não estar previsto, segundo a minha mãe eu queria ir à inauguração do Monte Alentejano, lugar pelo qual o meu pai me trocou nesse meu primeiro dia no mundo! Um ano depois na noite de S. João, foi na feira e numa tentativa frustrada de chegar ao carrinho do algodão doce que comecei a andar. Três anos após entrei num carrossel e estive tanto tempo a pedalar numa bicicleta que à saída os calções se tinham transformado numa saia ja que as costuras do meio se tinham esfrangalhado para grande desespero da família que me acompanhava. Durante anos as minhas tardes e noites de adolescente foram passadas a andar de carrossel e carrinhos de choque. A feira é por isso uma marca na minha vida. Ja nao a espero com a mesma expectativa, ja não vou ao poço da morte, porque ja não existe. Ja não tiro a sorte na bruxa, mas ainda c...

Feira de S. Joao - parte 1

  Vai começar mais uma Feira de S. João. A feira faz parte da minha vida desde sempre, talvez porque nasci no dia da cidade no ano da inauguração do Monte Alentejano. Nesse dia, enquanto a minha mãe estava no hospital o meu pai levava a mãe dele à inauguração do Monte, integrado na grande exposição do mundo português, tema escolhido nesse ano para a grande Feira da Região. Um ano depois, foi na feira em fuga para os carroceis que comecei a andar. Parece que foi o 1º grande susto que dei à minha mãe e no ano seguinte montei-me numa bicicleta do carrossel com uns calções e só sai de lá quando as costuras abriram e eles se transformaram numa saia, andei horas naquele carrossel. Mais tarde, a feira seria ponto de paragem obrigatória quando saia da escola do Rossio, ali aos 7 anos fiz amizade com Cora, um filhote de urso a quem dava maçãs à mão e com quem rebolava, até ficar com as calças rasgadas, isto até Cora ser presa numa jaula pois já era uma fêmea adulta e não ficava atada ao p...

madrinha jacinta

  Quando estava gravida de mim,a minha mae escolheu uma das suas amigas para ser minha madrinha, nao era comum, comum era ser alguém da família, mas ela nao era uma mulher comum e estava decidida a deixar como minha guardia~alguém de quem gostava, caso algo lhe acontecesse. Porem a vida nao quis e uma semana antes de eu nascer, vai fazer 54 anos, a Maria Jacinta deu entrada no Julio de Matos. Passou-se, depois de anos de violência domestica uma noite tentou matar o marido. Segundo ela "estava um monstro la´em casa" e estava. Estava o monstro que lhe batia, que a colocava com os filhos amarada debaixo do tanque em dias de chuva, que a prendia a uma cadeira e a deixava tardes inteiras debaixo dos 40 graus do verao alentejano. Depois de anos de sofrimento, ela passou-se e tentou mata-lo com a espingarda com que ele a ameaçava muitas vezes. Como seu dono,mandou encarcera-la no Júlio de Matos naquele mês de Junho de 66, impossibilitando-a a que fosse minha madrinha oficial. Esteve...

Os meninos da D. Ana

  a primeira vez que me apercebi que havia gente que tratava os negros de forma diferente tinha 9 anos. Tinha vindo viver para o meu largo uma família de "retornados" como se dizia na época. Fiquei amiga dos miúdos e uma tarde la´em casa a mae resolveu mostrar as fotografias de África. Paisagens incríveis, cidades muito bonitas, animais exóticos, tudo coisas que os meus olhos só estavam habituados a ver na televisão, a paginas tantas mostrou-nos umas fotografias da sua antiga casa e entre elas estava umas de uns miúdos negros, de calções e camisa, sem sapatos, deitados e enroscados num canto da varanda. Eu, que fui sempre muito perguntadeira, quis saber porque estavam eles a dormir na varanda. porque nao dormiam em casa numa cama, a senhora disse-me que a terra era muito quente, que eles gostavam de dormir na varanda porque estavam habituados. Tudo bem, aceitei. Ora uns dias depois estava um calor monumental, peguei na minha almofada e comecei a descer as escadas, apanhada p...