A menina Chica
Ontem devido a um post que me passou pelos olhos lembrei-me da mercearia da Menina Chica.
A menina Chica era uma senhora que teria ai uns 50 anos quando eu era uma pirralha. O seu lugar de hortaliça ficava em frente ao Jardim da Rua de Avis e era lá que íamos às compras, havia outro, mas íamos mais a este não sei porquê, já que a minha mãe era amiga das duas famílias. Mas isso agora não interessa...o que interessa mesmo é o ritual que tinha aquela ida às compras.
Entrando no lugar de hortaliça, havia logo quem fosse à casa da menina Chica, que ficavam por trás da loja, buscar mais uma cadeira e uma caneca de chã ou café, conforme o gosto da cliente e entre escolhas, pesos e medidas as compras da semana eram feitas entre um golo quente do que quer que fosse e a actualização dos temas da semana. A menina que estava doente ou a vizinha que mudou de emprego. A traição deste ou desta contada em tom de sussurro ou as peripécias de alguém que teve de ir a Lisboa ao médico. A menina Chica lá ia aviando as suas freguesas numa cadencia só sua e claro empurrando algum produto da sua eleição. De vez em quando lá entrava um homem, marido de alguém que não podia sair de casa por um motivo ou outro, que passava à frente de todas as senhoras presentes com a desculpa de que não tinha muito tempo, tinha que levar a encomenda rapidamente. E elas sempre os deixavam passar , continuando a conversar mais um pouco ou servindo-se de mais um pouco de chã ou café. De cada vez que alguém já tinha a lista de compras terminada lá saia a famosa frase da Menina Chica " Quer mais alguma coisa querida"! E a "querida" lá se sentia despedida da conversa e com um cumprimento geral lá iniciava a volta a casa. Porem quando ia muito carregada escutávamos nós, os gaiatos, o grito da Menina Chica " oh tu ai querido, ajuda lá a levar as compras há vizinha"! Algo que alguns faziam com agrado já que depois recebiam uma moeda no fim!
Há muitos anos que não existe o lugar de hortaliças da Menina Chica, nem sequer a propria, mas fico contente em saber que há outras pessoas que ainda chamam "queridos" aos seus clientes.
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