campo de concentração
Há coisas muito irónicas...no dia em que o partido nazi volta a ter acento parlamentar na Alemanha, eu fui levada por um polaco a Auschwitz/ Birkenau e se o 1º é mau o 2º é péssimo.
Já vi muitos filmes, li muitos livros e estudei esta parte negra da historia mundial, mas nao estava preparada para escutar tudo aquilo quase na 1ª pessoa.
Tudo pesa, desde o museu, objectos pessoais, as salas, os retratos e os nomes dos mortos, mas nada se comparou ao escutar " agora vamos fazer o caminho que os meus fizeram ate às câmaras de gás" ali levei o maior murro no estômago de que me lembro...ate pensei ser o maior...
O silencio do caminho faz as pernas pesarem e os passos tornarem-se mais lentos, como se tivesse medo da chegada...aquelas ruínas causam pánico, ali morriam aos milhares sem se saber o porquê.
E os passos continuam lentos, o polaco vai apontando os espaços do campo, vai contando a historia da sua família, de si próprio...
"aqui dormiam as 700 crianças polacas que não conheciam outra forma de vida pois as mais velhas tinham 9 anos" ...este é o maior murro no estômago, nada o volta a igualar... e o ali são 3 níveis de tábuas, metidas em buracos, com pouca luz, sem ar, onde o calor e o frio não se diferenciam do que esta lá fora. E sobre elas um cobertor velho, puido que não dá para tapar nada...e as lágrimas do polaco misturam-se com as minhas, e os meus soluços embargados cruzam-se com os dele. Falta o ar...acho que a todos, mas cá fora também não se respira bem, é como se as cinzas pairassem ainda, é como se algo nos tapasse a garganta...
Tudo pesa, o silencio, a terra molhada sob os pés, o frio, talvez o que pese sejam os arrepios por sentirmos que nos estamos a misturar com todos os infelizes que ali passaram...
Estamos exaustos ao fim de 6 horas de andar por todo o campo, estamos moralmente de rastos mas o polaco coloca nos nossos ombros um novo fardo " Vão, contem o que viram, contem a minha historia e a de todos os que aqui morreram, peçam-lhes que venham, que visitem o campo,passem palavra, não deixem a historia morrer, eles não querem que a transmitamos, eles querem silencia-la, eles estão de volta, não deixem"!
E ali, eu que sou uma mulher forte de garra, sinto-me impotente, fraca, miserável, sinto vergonha da minha vida burguesa, onde as minhas lutas são menores e as minhas contestações são insignificantes...
Estou aqui a fazer o que me pediu, levei semanas a faze-lo, ainda sinto o estômago embrulhado e sei que não consigo passar o que senti...mas podem crer que foi muito mau!
Ao meu amigo polaco e aos meus companheiros de caminhada, agradeço especialmente o ter-me escutado chorar sem me interromper, pois de outra forma a porrada ainda tinha sido pior!
A vocês deixo as imagens que valem mais que mil palavras!
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