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Mostrando postagens de abril, 2022

O Cantinho do Cante na Ovibeja

  Talvez tenham passado 20 anos, não sei ao certo, mas já foram muitos desde a primeira vez que o Cante foi marca de diferenciação na Ovibeja. Pela mão de José Luís Jones instalou-se o cantinho do Cante. Os homens do cante marcaram presença, cantaram ao despique, contaram historias, mostraram modas que já estavam em desuso. O homem do gravador, Jones, registava tudo, para depois editar em CD ou livro. Os olhos brilhantes e sorridentes a cada nova moda. E sempre a instigar a mais uma. Assim vivenciei pela primeira vez uma feira cheia daquele cante que ninguém ligava lá para os meus lados e que me cativava desde menina. Ele, o Jones, falou-me depois dos encontros de Cante de Aljustrel, da Festa da Senhora da Cola e do Cante ao Baldão, que desconhecia. E foi-me mostrando tudo o que tinha gravado. Muita entrevistas pelos campos fora, feitas a pastores e outros trabalhadores rurais que detinham esta riqueza imaterial. Essa, foi uma Ovibeja marcante para mim. Foi ali que comecei a trabal...

Não sou da geração que fez o 25 de Abril

  Não sou da geração que fez o 25 de Abril nem sequer da que a viveu plenamente, sou da seguinte, da que não tem memoria do fascismo a não ser pelos livros ou pelas conversas. Mas isso não faz com que não tenha memoria sobre esse dia distante. Há 41 anos atras no dia 25 de Abril eu e todas as minhas colegas de colégio, passamos o dia a rezar, mas nesse dia não foi pela alma dos meninos da Rússia foi mesmo pela nossa salvação. Um dia de dores nos joelhos e um dia de fome, devido ao jejum. Porquê? Só muito mais tarde soube porquê. Importante, importante foi o dia 26 de Abril, dia em que os meus pais não foram trabalhar e eu não fui ao colégio. Ate as dores nos joelhos me passaram e o dia foi todo de brincadeira. Gostei desta coisa a que chamavam liberdade. Se liberdade era não ir ao colégio e não rezar, por mim estava aprovada! Mas a liberdade havia de dar-me mais do que dias sem rezas. Deu-me a possibilidade de escolher o que fazer com a minha vida. Deu-me a liberdade de viajar. Deu...

25 de abril

  Hoje por aqui, alguns amigos, daqueles que estão no lado oposto ao que eu estou, tem escrito que "dante é que era bom, que Portugal vivia bem, não tinha divida, as pessoas tinham respeito ao poder e aos donos do dinheiro, que a maioria nem sabia que vivia em ditadura, que tinham emprego e por ai vai... Pois é, eu ate acho que eles acham que tem razão, pois os seus pais eram os empregadores, não lhes faltava nada na mesa e a vida corria-lhes bem. Percebo-os. e perguntam vocês porque os percebo' Porque eu também sei a história que lhes contaram. A minha mãe era filha e neta de donos de terras, foi à escola, tinha roupa nova e nunca andou descalça. Bebia leite condensado que vinha de Espanha pois não gostava de leite de vaca, a irmã foi tratada em Paris em criança e vinham a Évora de Charrete. Os avós davam emprego a muita gente e ate eram "generosos", ajudavam as viúvas, pagavam funerais e ate emprestavam dinheiros em casos de doença. Se eu soubesse só esta parte da ...

Morte no Tarafal

  Em 1937 um dos filhos da Maria Barenha, nascido a 24 de Abril de 1911, minha bisa deu entrada no Tarafal para nunca mais voltar. Parece que o avisaram varias vezes para não se meter em politica, para não entrar na revolta dos marinheiros, não escutou, foi há luta de peito aberto e coragem. Maria Barenha, a alentejana destemida da qual herdei o ADN, pôs-se a caminho de Lisboa para se despedir de mais um filho. Sabia que ele não voltaria, sabia que seria a ultima vez que o via. Parece, que ele lhe pediu desculpa por mais essa dor, mas a Maria não achou isso diz-se que lhe disse .- " se não lutasses, se te acobardasses ai sim era preciso desculpas, pois eu não pari cobardes, assim nada tenho a desculpar" e despediu-se dele para sempre! Esteve varias semanas em Lisboa a consolar mães, mulheres e filhas de condenados como o seu filho, regressada a casa voltou a tratar dos filhos que cá tinha deixado ( 3 haviam de morrer de forma idêntica). O filho morreu 1 ano depois de dar ent...

A forma de sapateiro

  Hoje o Francisco Chico da Emilinha partilhou uma foto de uma forma de sapateiro que me levou a olhar para a que tenho cá em casa, também ela hoje a servir de enfeite. E ao olhar para ela lembrei-me da minha mãe (que esta viva e se recomenda). Nascida numa família rica, o pai perdeu tudo tinha ela ai uns 16 anos. Menina sem ter hábitos de trabalho, a ir à escola e a comer carne e beber leite condensado, pois não gostava do de vaca. Tudo levava a querer que tivesse ficado, tal como os irmãos, uma ex-rica aparvalhada. Mas não, a minha mãe que não sabia fazer nada, nem a comida, arregaçou as mangas e aprendeu. Empregou-se numa fabrica, onde começou a enrolar rebuçados e de onde saiu como encarregada 40 anos depois. Mas não se ficou por ai, era o que faltava...ia aprender tudo o que fosse possível. Segundo ela, se um dia lhe voltasse a faltar o dinheiro, havia de saber desenrascar-se. Já a conheci a fazer a sua própria roupa que via as artistas vestirem nas revistas. Aprendeu a cortar...

as empresas abutre

  Na semana passada foi inaugurada com pompa e circunstancia uma nova empresa em Évora. O presidente da câmara, que varias vezes se referiu a esta empresa como exemplo foi mesmo cortar a fita da CAPGEMINI PORTUGAL. Depois, a oposição pegou numa entrevista dada pelo presidente do grupo para pedir explicações sobre o que disse o senhor à comunicação Social sobre a falta de mão de obra na cidade e sobre os preços caros da mesma...queixa-se o senhor de "estar a ir mais lento do que o previsto por um problema de oferta e que deveria ser o mais fácil de resolver". Lançadas estas afirmações logo um bando de gente desatou a dizer que por cá ninguém quer é trabalhar, que são uns malandros e por ai segue o discurso... Já há algum tempo me ando a conter em falar sobre esta empresa ( e as da sua laia), para não colocar agua fria no sonho de alguns, mas agora não vai dar...o senhor pós-se a jeito! Ora a empresa não consegue realmente profissionais qualificados, mas não por falta ou por na...

Sra Ministra Graça Fonseca

  esta tudo mal senhora ministra a classe artística que a senhora diz gostar tanto, que ate ficou contente com a sua ida para o ministério da cultura, esta a morrer de fome! E você assobia para o lado. Fomos os primeiros a fechar, somos aqueles que ja sabem, pois os contratos estao cancelados, que nao temos trabalho ate Setembro (no mínimo). Na grande maioria ja éramos todos precários o que fazia do nosso dinheiro chapa ganha, chapa gasta. Fomos apanhados no nosso pior período, pois como sabe (ou deveria saber) em Janeiro e Fevereiro raramente temos trabalho, o que faz com que muitos tenham as actividades fechadas ate Março, pois nao da´para pagar contribuições e nao receber. E o que temos como apoio é uma mao cheia de nada. a senhora poderia ter pedido a excepção no acesso a segurança social ( o estado de emergência permitia-o)e abranger os que estavam com as actividades fechadas, muitos deles com 8 meses de descontos no ano anterior, nao o fez. Deixando milhares sem acesso a es...

Direitos em tempo de fascismo

  Hoje por causa da noticia das duas mulheres que mostraram aos médicos que ainda amamentavam a minha mãe, mulher que não é dada a muitas historias, contou-me duas que protagonizou. No ano em que nasci saiu a lei que dava às mães um mês para estarem com o bebe recém- nascido. Quando me teve, mandou entregar a minha certidão na fabrica e ficou em casa durante um mês. Finalizado o prazo foi trabalhar. Chegada lá, o chefe disse-lhe que estava despedida porque tinha abandonado o trabalho durante um mês. Ela respondeu que não, tinha estado com licença de maternidade. O bom do homem respondeu que ali a lei não interessava para nada...A boa da minha mãe saiu da fabrica direita ao tribunal de trabalho e depois de explicar à técnica o porquê da sua visita, na hora a funcionaria entrou em contacto com o patrão que a mandou regressar ao trabalho. E o caso ficou por ali. Na mesma lei tinha sido dado a todas as mulheres que amamentassem 1 hora por dia. Como vivia perto do trabalho saia meia hor...

o desmoronar da mulher de aço que era a minha mae

  Esta a fazer anos ,já se passou quase uma vida mas ainda me lembro como se fosse hoje o dia em que percebi que a minha mãe, a mulher de aço a quem nada nem ninguém conseguia vencer, derrubar ou machucar, se deixou cair numa depressão profunda. Naquele dia ao voltar para casa para almoçar ela estava desgovernada, gritava, partia coisas, andava violentamente pela casa como se estivesse presa. assustei-me, tentei para-la mas foi impossível e restou-me esperar que passa-se. Passaram horas quando ela tombou no sofá, a cabeça entre as mãos e os soluções sofridos já quase sumidos. Quando consegui ter coragem aproximei-me, precisava saber o que levava aquela mulher de garra, sempre compenetrada e correcta a estar naquele estado. Bem sabia que estávamos a passar tempos difíceis, o desemprego dela e do meu pai, fazia-nos estar a viver tempos difíceis, mas ela tinha-se mantido firme durante aquele ano, aquilo teria de ter outra explicação...e tinha. O jornal foi-me estendido, percebi que al...

As Vacinas

  Há um valor supremo do qual nao abdico nem para mim nem para os outros a Liberdade! E ele vale para tudo! Faço todos os dias a tentativa (umas vezes consigo mais do que outras) de não fazer juízos de valor sobre o que quer ou quem quer que seja! E por fim não tenho sobre nada verdades absolutas, não tenho essa arrogância! Depois deste preâmbulo vamos às vacinas...Há controvérsias cientificas sobre a sua pertinência. Existe há muitos anos esta discussão, porem os meios de comunicação transmitem sempre a mensagem apenas daqueles que são a favor. E não me venham com o caso do medico americano que é um só e a corrente medica contra é muito maior do que isso! Depois e por aqui já vi muitos a defender isso, não pensem que os pais que são contra o fazem de animo leve, a maior parte deles, nos quais me encontro, pesquisam, falam com profissionais de saúde, informam-se, estudam, adquirem conhecimentos sobre a questão ficando muitas vezes muito melhor informados do que aqueles que defendem...

A minha madrinha driblou a maleita

  a minha madrinha irma da minha mae, adoeceu tinha 6 anos. O medico, privado, que foi a herdade no Freixo consulta-la, tratou-a durante 1 mês. Todos os dias la´ia. ao fim desse mês disse aos meus avós que nao sabia o que a menina tinha, que ela nao reagia e que se preparassem para ela morrer. O meu avó tinha uma verdadeira adoração por aquela filha. Nao aceitou o veredicto, como tinham dinheiro rumaram com ela primeiro para o hospital de Redondo, depois para Lisboa, o veredicto era sempre o mesmo. Nao sabemos, nao ha nada a fazer. Nos meses em que estiveram em Lisboa, souberam que em Paris um medico tinha tratado de uma menina com os mesmos sintomas. Pegaram neles e la foram. Estiveram 6 meses em Paris, ela numa clínica, eles numa pensao. ao 3 mês foi-lhe diagnosticado "o mal" no baço. O mal para quem nao sabe era cancro. Só com operação, disseram-lhes. Faça-se disse o meu avó. E assim se fez. Correu tudo bem, esteve mais 3 meses a fazer tratamentos e regressou a casa viva e...

Manoel de Oliveira morreu

  Manoel de Oliveira morreu, ao contrario do nosso ministro não me admirou, afinal o senhor tinha 106 anos, um dia morria. Apesar de parecer mal, eu continuo a dizer o que disse sempre, não gosto dos filmes do mestre, nem do Aniki Bobo gostei! Mas não gosto dos filmes dele, como não gosto dos livros de Saramago ou das obras da Vasconcelos. Não serei culta, paciência, mas não gosto e já percebi há muito tempo que os gostos são pessoais e não se discutem. E eu, não digo que gosto do que não gosto! E eles estavam-se nas tintas para a minha opinião, afinal nem sequer sabiam que eu existo. Quanto ao facto do cineasta ter levado o nome de Portugal para o mundo. Sim, é verdade. Mas foi ele, foram cantores, arquitectos, médicos e ate empregadas de limpeza. Claro que cada um no seu meio e à escala decidida pela comunicação social. Ele foi mais destacado do que uns e menos que outros. Já a questão do humanista, filosofo ou homem de esquerda, disso não sei nada, não o conhecia e ele também ...

lavar os santos

Quando era miúda por esta altura passava os meus dias a lavar os Santos de S. Francisco e a enfeitar os altares com rosmaninho e alecrim. Uma semana antes da Pascoa a igreja tinha que estar bonita para receber a bênção dos ramos. Na missa do Domingo de Ramos, que é já dia 9, os agrários vinham com ramos enormes de alecrim, rosmaninho e palmito para que estes fossem abençoados, ramos esses que depois colocavam em cruzes no meio das cearas para terem boas produções de cereais. Depois vinham as senhoras da cidade com pequenos ramos sempre de ervas do campo para colocar por cima das camas para abençoar a família. O cheiro da igreja naquele dia era impressionante, um cheiro forte mas leve de flores que em nada tinha a ver com os outros dias do ano. Deste tempo me ficou o gosto pelas ervas e flores do campo! Este era o único domingo do ano em que ir para a igreja toda a manha não me chateava, nos outros sempre achei mais interessante e produtivo ficar a dormir! Acho que ainda hoje é assim...

abobora

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  vora sempre foi de mitos. Quando era miúda, eu e as minhas amigas escutávamos muitas vezes que se fossemos ao Café Portugal ficávamos drogadas e que os drogados nos iriam fazer muito mal. O pior de todos era o Abobora. Não me era dito em casa, mas como escutei isso muitas vezes durante vários anos de cada vez que passava em frente do Portugal encostava-me à parede do Anselmo, para ficar protegida e fugia do Abobora de cada vez que com ele me cruzava. Mas como sempre fui de lutar com os medos, tinha ai uns 11 anos quando saindo de Santa Clara resolvi armar-me em corajosa e ir lanchar ao Portugal. Comi à pressa, sempre de olho em tudo e todos e sai ainda mais depressa. Acho que engoli a torrada. O certo é que como não me drogaram, nem me fizeram mal, aquele passou a ser um ritual, lanchava e saia rápido nos primeiros tempos, depois passei a ir com amigos e com o passar do tempo aquela passou a ser a minha 2ª casa ate ao dia em que fechou. Durante vários anos o Abobora ainda me da...